O Brasil é um país com destaque mundial devido a sua biodiversidade, que representa um potencial imensurável, porém o seu conhecimento ainda é restrito, negligenciado e não explorado de forma correta, gerando uma perda do que poderia ser aproveitado economicamente na flora nativa. Nesse contexto, destaca-se a espécie Copernicia prunifere, conhecida popularmente como carnaúba.
A carnaubeira é uma palmeira típica do Nordeste brasileiro e uma importante fonte de renda através do extrativismo vegetal. No Piauí, estado que carrega a árvore como seu símbolo através do Decreto nº 17.378, de 25 de setembro de 2017, o foco da sua utilização é basicamente na produção da cera, apesar de ser uma planta que se pode aproveitar tudo. Seus frutos podem ser estimulados para o consumo dos indivíduos e alguns estudos analisaram que eles possuem importantes substâncias microminerais, macrominerais e substâncias bioativas. Mas geralmente são destinados para a alimentação de animais, sendo o uso na alimentação humana ainda muito baixo, restringido à extração do óleo ou na torrefação da amêndoa para extrair o pó e desenvolver mingaus. Em algumas localidades o pó substituiu o café.
Em execução através do Programa de Bolsas de Iniciação Científica da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Piauí (FAPEPI), o projeto “Bebida sabor café obtida da amêndoa da carnaúba (Copernicia prunifera): características físico-químicas, tecnológicas e nutricionais”, contemplado no Edital 002/2021, ressalta que a utilização do fruto da carnaubeira para a elaboração de um novo produto será mais uma alternativa, das muitas possibilidades que essa palmeira já oferece para aqueles que sobrevivem através dela.
De acordo com o Projeto muitas empresas têm consciência das tendências de consumo, dessa forma buscam novos ingredientes para acrescentar aos produtos já existentes e aos que poderão ser desenvolvidos. A pesquisa destaca que uma técnica viável é a elaboração de uma bebida sabor café a partir da torrefação e moagem da amêndoa do fruto, podendo utilizar-se o método convencional, que já é aplicado no café arábico, agregando valor ao produto e minimizando suas perdas.
“Por se tratar de um fruto regional e que não tem muita utilização para a alimentação humana e sim mais na alimentação animal, conseguir desenvolver um produto através desse fruto seria algo que iria trazer novos postos de trabalho para a população que depende disso”, contou Ruthe bolsista do projeto.
A pesquisa avalia a composição físico-química, nutricional, os compostos bioativos, a atividade citotóxica da amêndoa da carnaúba em comparação ao café tradicional. A equipe de pesquisa, coordenada pela professora Stella Regina Arcanjo Medeiros em conjunto com as bolsistas Shelda e Ruthe e o aluno mestrando do PPPGAN/UFPI Fhanuel Andrade, está localizada no Campus Senador Helvídio Nunes de Barros, da Universidade Federal do Piauí, UFPI de Picos.
Não é à toa que ela é conhecida como a “árvore da vida”. Mediante a pesquisa bibliográfica sobre essa espécie nota-se que o fruto, apesar de ter compostos essenciais para o dia a dia da alimentação humana é, muitas vezes, desperdiçado. Frente a esse estudo e à agregação de valores ao fruto, são analisadas maiores evidências ao seu potencial tecnológico, agregando valor econômico.
O pó da amêndoa da carnaúba mostrou-se rico em minerais, apresentando valores maiores que a ingestão diária recomendada. Com a análise da composição centesimal realizada, foi possível detectar que esse pó é rico em carboidratos e lipídios, podendo ser um futuro alimento. Acredita-se que esses lipídios possam ter influências positivas no que diz respeito a nutrição, entretanto, ainda estamos em fase de análise de ácidos graxos. O produto também caracteriza-se como um alimento pouco perecível, com um elevado teor de acidez. A pesquisa ainda deve passar por análises toxicológicas mais precisas para assegurar o consumo da bebida. Futuramente, pretende-se desenvolver um sorvete a partir deste pó da carnaúba. Além disso, é importante que sejam feitos estudos do consumo deste pó em seres humanos, para que haja uma aplicabilidade tecnológica.