No ano de 2021, a Fundação de Amparo à Pesquisa no Piauí (FAPEPI) e a Embrapa Meio Norte assinaram Termo de Cooperação que visa a transferência de tecnologias e inovação em fruticultura irrigada, com a integração de esforços entre as duas instituições para execução de trabalhos de pesquisa, desenvolvimento e inovação em fruticultura destinada aos polos de produção prioritários do Estado do Piauí.
Diante da necessidade de melhorias do nível tecnológico nos sistemas produtivos de fruteiras irrigadas, os produtores de frutas dos polos de fruticultura irrigada do Piauí, por meio da Câmara Setorial Estadual de Fruticultura, demandaram apoio da Embrapa no sentido de ajustar e disponibilizar tecnologias para as principais espécies frutíferas já cultivadas por eles. Assim, em reunião realizada em abril de 2017, a referida Câmara Setorial solicitou da Embrapa a elaboração de uma proposta para posterior análise e contratação.
Dessa forma, a equipe de pesquisadores da área de fruticultura da Embrapa Meio-Norte elaborou uma minuta da proposta de intervenção tecnológica para dez espécies frutíferas nos polos prioritários do estado do Piauí. Em audiência realizada em 26 de junho de 2017, a Câmara Setorial Estadual de Fruticultura apresentou ao Governo do Estado, a proposta elaborada pela Embrapa Meio Norte, intitulada “Transferência de tecnologias e inovação em fruticultura irrigada para os polos prioritários do Estado do Piauí”. O foco do projeto com as respectivas atividades a serem desenvolvidas foi definido de maneira participativa envolvendo produtores, Câmara Setorial, governo do Estado e outros parceiros. Após concluído, em reunião extraordinária, o projeto foi apresentado à Câmara Setorial Estadual de Fruticultura, que o aprovou e em seguida providenciou a negociação dos recursos para o desenvolvimento do projeto. A proposta foi aprovada e recomendada pelo Governo para ser apresentada formalmente à FAPEPI, para análise e posterior financiamento com recursos do Governo do Estado.
Para a elaboração do projeto foram realizadas reuniões com vários atores da cadeia produtiva da fruticultura do estado do Piauí, sempre com a participação de membros da Câmara Setorial Estadual de Fruticultura para levantar, com mais precisão, os principais gargalos da atividade no estado e em especial nos referidos polos. A realização de trabalhos em campo visando ajustar e transferir as tecnologias de manejo de frutíferas irrigadas, a partir do acervo de tecnologias já desenvolvidos pelas Embrapa são importantes para os agricultores obterem respostas mais rápidas em seus sistemas produtivos.
Para entender melhor a dinâmica das atividades produtivas, bem como os principais problemas tecnológicos nesses polos emergentes, durante o mês de julho de 2017, um grupo de pesquisadores da Embrapa Meio-Norte realizou uma missão que permitiu verificar in loco junto aos agricultores irrigantes e dirigentes de perímetros irrigados, as questões que precisam ser resolvidas através do uso da tecnologia de produção e da pesquisa científica e tecnológica. Nos quatro polos visitados, as questões referentes ao manejo de solo, água e planta, com foco em manejo de irrigação e adubação, manejo e controle de pragas e doenças, novas cultivares, poda e densidade de plantio foram verificadas e apontadas pelos agricultores como passíveis de melhoria.
“As áreas cedidas para o projeto são do agricultor. O que nós fazemos é uma parceria com o produtor e essa parceria é formalizada via associação deles, que os indica, então fazemos a seleção. Da parte do agricultor, é ceder a área e as condições de irrigação. Além disso, é importante o produtor conceber aquilo como também sendo dele, pois ele é quem vai cuidar do manejo direto, o projeto faz parte do dia-a-dia dele. Ele vai se beneficiar porque além do aprendizado com a parceria, ele vai ficar com parte da colheita”, conta o professor pesquisador da Embrapa Valdemício de Sousa, coordenador do projeto.
Paralelo a essa análise do solo, os pesquisadores envolvidos dimensionaram o sistema de irrigação e a instalação. Também foi ministrado um curso de instalação voltado para os produtores e estudantes e com esse conhecimento, esses se tornaram mão-de-obra que auxiliou na instalação. “Isso tem surtido um efeito muito bom. Além dessa capacitação em instalação haverá outras, como manejo, controle de pragas, etc. À medida que o projeto vai se desenvolvendo, vão surgindo outras necessidades e nós vamos capacitando”, revela o professor Valdemício.
As atividades realizadas pelo projeto são voltadas à transferência de tecnologias de cultivo, manejo, produção e agregação de valor às fruteiras tropicais para o desenvolvimento integrado sustentável com inovação no segmento da fruticultura. Também são objetivos da parceria realizar um levantamento e sistematização do acervo de tecnologias já desenvolvidos para as espécies: acerola, banana, goiaba, maracujá, e uva, com possibilidades de ajuste/adaptação e utilização; instalar Unidades de Referência Tecnológica (URTs) em campo com vistas a ajustes e adaptação de tecnologias no âmbito das espécies frutíferas mencionadas, estruturar e instalar, junto com o setor produtivo, ações integradas de transferência de tecnologias e desenvolvimento com inovação na fruticultura capazes de impactar positivamente o desenvolvimento regional e capacitar, simultaneamente, técnicos e agricultores multiplicadores nas principais tecnologias e estratégias para aplicação e utilização das ações integradas de transferência de tecnologias.
“Essas capacitações oferecidas pelo projeto são abertas à comunidade, porque o projeto não é só para quem está recebendo, no caso, o agente multiplicador, mas para todos que podem ser beneficiados. Uma estratégia do projeto é: com as unidades de referência tecnológica em funcionamento, citando como exemplo a cultura da uva, o projeto prevê que devemos estimular outros agricultores do município a também plantarem uva. O treinamento é apenas um item dentro do projeto, nós estamos levando uma mensagem que o projeto não é só pra plantar, uva, goiaba, acerola, etc, o projeto é de transferência de tecnologia e conhecimento. Para isso existe toda uma estratégia, que também é usar a unidade de referência no campo em toda a sua fase de plantio até chegar à produção”, conta o coordenador.
As Unidades de Referência Tecnológica (URTs) serão instaladas e conduzidas em áreas de agricultores irrigantes dos polos de fruticultura irrigada envolvidos, com a coparticipação dos mesmos. Assim, como se trata de cultura de ciclo longo, ao finalizar o projeto, as URTs ficarão sob a responsabilidade dos proprietários, como unidades produtivas. “Esse processo de transferência de tecnologia envolve treinamentos, capacitações e a visitação de outras pessoas para que seja possível realizar o efeito multiplicador. Então não foi simplesmente chegar e selecionar, nós elaboramos os critérios e no meio do caminho também tivemos que mudar alguns. Após as análises de amostras de solo, realizadas na sede da Embrapa, nosso primeiro passo foi recomendar a cultura para o tipo de solo”, relata o professor Valdemício.
O valor total orçado para a execução do projeto é de mais de 8 milhões de reais. Os trabalhos estão sendo executados na área da Embrapa Meio-Norte, em Teresina, e nas propriedades de agricultores irrigantes no Perímetro Irrigado dos Tabuleiros Litorâneos do Piauí (Parnaíba), no Perímetro Irrigado dos Platôs de Guadalupe, no Polo Marrecas – Jenipapo (São João do Piauí) e no Polo Alto Canindé – Barragem Joaquim Mendes (Conceição do Canindé). A capacitação, que vai durar três anos, está sendo feita por meio de transferência de tecnologia da Embrapa Meio Norte, que conta com 26 pesquisadores envolvidos.
A execução do projeto conta com parceiros como: Câmara Setorial de Fruticultura, Organização dos Agricultores nos Perímetros (com agricultores selecionados), Prefeituras Municipais (Parnaíba, Guadalupe, São João do Piauí e Conceição do Canindé), Governo do Estado Piauí (SAF, EMATER-PI, SEAGRO, SEPLAN, Agência Piauí Fomento, SEMAR, Coordenadoria de Irrigação e Recursos Hídricos), Bancos (do Nordeste, do Brasil e Caixa Econômica Federal), Universidades (UESPI, UFPI e IFPI) e Instituições do Governo Federal (CODEVASF, DNOCS, MAPA). Além disso, com as Universidades e a CAPES, o projeto buscará firmar parceria no âmbito dos cursos de pós-graduação com o propósito de contribuir para a formação de pessoal e de desenvolvimento de Dissertações e Teses dentro do projeto.
“O projeto está trazendo vários benefícios que não estavam previstos e que vão gerar um impacto positivo muito grande no estado do Piauí. Vou citar dois exemplos: A circulação de uva lá em São João do Piauí foi afetada porque foi proibido pelo ministério da agricultura a entrada de mudas de uva de Petrolina porque lá surgiu uma doença vegetal perigosa que pode contaminar outras plantas em outros estados. Petrolina é o único lugar que vende mudas de uva pro nordeste inteiro, além do Vale do São Francisco ser responsável por cerca de 98% de toda uva exportada no Brasil. Quando apresentamos o projeto, fomos questionados como iríamos plantar uva aqui se o ministério está proibindo. O que foi que fizemos: entramos em contato com a Embrapa Uva e Vinho em Bento Gonçalves e por sorte nossa, a líder do programa de melhoramento de uva quando viu o resumo do nosso projeto quis participar. Participar da forma que estava previsto: instalar uma URT para manejo de uva e também trazer novas variedades que já estão no mercado. Com isso estamos ganhando a inclusão do Piauí no programa nacional de melhoramento genético de uva da Embrapa Uva e Vinho”, revela Valdemício.
Além de treinamento, o projeto também estabelece estratégias para a comercialização da produção, de forma a aumentar o valor dos produtos. O presidente da FAPEPI, Antônio Cardoso do Amaral, explica que o projeto é importante para o desenvolvimento do Estado, devido ao grande número de piauienses que moram na zona rural e que contam com a agricultura como sua única ou principal fonte de renda. De acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), 670 mil pessoas trabalham na zona rural do Piauí. “Fortalecendo a produção e gerando riqueza no campo, ajudamos a reduzir a pobreza, trazendo qualidade de vida aos nossos agricultores. Investir em pesquisa e ciência é isso: transformar conhecimento em dinheiro para o povo”, frisa Amaral.