FAPEPI, CIATEN e UFPI levam cursos, palestras e cinema para aproximar conhecimento da população.

Com apoio da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Piauí (FAPEPI) e a participação efetiva da Universidade Federal, o Centro de Inteligência em Agravos Tropicais Emergentes e Negligenciados (CIATEN) inovou no ano de 2025 com capacitação técnica e grande mobilização social. Com isso o ano trouxe uma ações culturais que priorizaram hanseníase, arboviroses, raiva humana, tuberculose e segurança no trânsito, sempre com foco em prevenção, Trouxe ainda atualização profissional e enfrentamento de estigma , além de uma sequência de webinários, cursos de curta duração e seminários.

Segundo o relatório que trata somente de atividades e eventos, os números de participação apontam alcance expressivo. O Seminário de Inteligência Artificial Aplicada à Saúde reuniu 370 inscritos, tornando-se a maior atividade formativa do ano. Na mesma linha tecnológica, o seminário sobre modelos de IA para otimizar a absorção de medicamentos somou 206 inscritos. A área de vigilância em saúde também atraiu público elevado: o seminário de prevenção da raiva humana registrou 193 participantes, enquanto o webinário sobre linha de cuidado da tuberculose alcançou 148 inscritos. Já a qualificação da linha de cuidado da hanseníase no Piauí contou com 125 participantes.

Segundo o professor Dr. Carlos Nery Costa, “embora ainda muito jovem, com apenas oito anos de existência, o CIATEN já demonstra maturidade ao abordar um conjunto amplo de processos, articulando conhecimento científico e métodos voltados para doenças que acometem as populações mais vulneráveis e mais pobres. Entre elas estamos nós, habitantes dos trópicos, região mais pobre do mundo, vivendo em um país de renda média alta, mas em um estado particularmente pobre. Essas doenças permanecem entre nós e seguem causando impacto significativo na saúde da população”.

No conjunto citado pelo pesquisador, aparecem as chamadas doenças negligenciadas, que costumam receber menos atenção por atingirem populações muito pobres ou ocorrerem de forma mais ocasional. Nesse grupo estão o calazar, as leishmanioses e a chamada “ferida brava”, a leishmaniose tegumentar, também conhecida como doença de chão. Agravos que, muitas vezes, passam despercebidos, embora provoquem danos importantes no Piauí. O relatório também chama atenção para a tuberculose, ainda ativa e transmitida especialmente entre populações vulneráveis, como pessoas privadas de liberdade, moradores de rua e indivíduos com imunossupressão. No cenário brasileiro, o professor destaca que os indicadores seguem preocupantes, apesar de a gravidade do problema nem sempre ser percebida pela população.

Além desse conjunto, o CIATEN se dedica a analisar doenças emergentes para compreender sua dinâmica, entre elas dengue, chikungunya, zika vírus, febre do Nilo Ocidental e outras que já circulam e tendem a continuar surgindo. O relatório também registra um problema de saúde considerado crítico no estado: as lesões decorrentes de acidentes de trânsito, especialmente envolvendo motocicletas, descritas como uma tragédia que tem ceifado a vida de adultos jovens, pais de família, ou limitado drasticamente sua capacidade de trabalho e sua atividade física.

Fotos: Divulgação Ciaten

A ciência como base e a difusão do conhecimento

No relatório, o CIATEN reforça a ciência como fonte principal de conhecimento. A instituição reconhece a importância da política e das políticas públicas, mas defende que elas precisam ser sustentadas por evidências científicas, condição apontada como base para políticas sólidas e com retorno elevado.

A difusão do conhecimento aparece como um eixo central. É nesse ponto que entra a fala do professor Bruno, destacando que o CIATEN mantém múltiplas inserções em secretarias de saúde e na gestão municipal, contribuindo para orientar políticas públicas a partir do que a ciência já consolidou sobre esses agravos. A apresentação também aponta que há diversos produtos em desenvolvimento, ao mesmo tempo em que o centro amplia investimentos em inteligência artificial, em alinhamento com iniciativas do Governo do Estado do Piauí, buscando incorporar a ferramenta às atividades de pesquisa.

Na avaliação institucional, a difusão desses conteúdos tem sido ampla. A área de comunicação é citada como uma frente ativa na aproximação com o público, levando ao cotidiano dos piauienses o trabalho do centro: ciência voltada para os mais pobres.

Além dos eventos online e híbridos, o CIATEN manteve presença constante no território. Realizou feiras educativas, rodas de conversa e seminários presenciais em Teresina e em outros municípios, conectando pesquisadores, profissionais do SUS e a população.

Ciência e arte contra o estigma

A programação de 2025 também adotou a arte como ferramenta direta de saúde pública. Em janeiro, o CIATEN realizou a exposição Vozes – contra o estigma, preconceito e outras violências que acontecem – mulheres com hanseníase, no Museu do Piauí, para dar visibilidade à experiência de mulheres atingidas pela doença e às marcas sociais do preconceito. Poucos dias depois, levou a mostra Entre vozes que ecoam ao Teresina Shopping, ampliando o contato com o público fora do ambiente acadêmico.

Na sequência, reforçou a dimensão técnica do tema ao realizar o II Seminário Piauiense sobre Hanseníase, na UFPI, com o objetivo de atualizar profissionais, alinhar discussões às políticas públicas e compartilhar experiências de cuidado no estado.

Foto: Divulgação Ciaten

Em março, o centro manteve a proposta de integrar cultura e prevenção ao promover a exposição “Tudo pede um pouco mais de calma: uma reflexão sobre a raiva humana”. O evento ocorreu no Museu de Arqueologia e Paleontologia da UFPI e incluiu roda de conversa com especialistas, que discutiram riscos, vigilância e estratégias de controle do agravo.

Foto: Divulgação Ciaten

Mobilização social e novos públicos

A agenda não ficou restrita ao campo das doenças infecciosas. Em abril, o CIATEN realizou a One Health Fair no Bioparque Zoobotânico, unindo saúde humana, animal e ambiental. A ação ofereceu atividades educativas e incentivo à preservação, com entrega de mudas nativas, fortalecendo a ideia de que prevenção também passa por meio ambiente e qualidade de vida.

Em maio, o centro entrou na campanha Maio Amarelo e levou o tema da segurança no trânsito para o debate público. Primeiro, realizou a roda de conversa Ai, que trânsito!, com reflexões sobre mobilidade, responsabilidade humana e cultura de segurança. Depois, promoveu o seminário Motociclistas e a segurança no trânsito: vidas sobre duas rodas importam, direcionado a um dos grupos mais vulneráveis a acidentes nas cidades.

Foto: Divulgação Ciaten

Entrelaçadas e um novo modo de falar sobre hanseníase

Dentro dessa estratégia de comunicação pública, o CIATEN também estreou o documentário piauiense Entrelaçadas: entre vozes que ecoam, com roteiro de Fábio Solon e produção do CIATEN/UFPI. A obra propõe abordar a hanseníase por outro olhar e por uma nova forma de falar: menos centrada apenas no diagnóstico e nos aspectos clínicos, e mais atenta às experiências, às relações, às marcas sociais e às vozes de quem convive com a doença.

O filme foi exibido na Câmara Municipal de Teresina e também transmitido online, como parte das ações do centro para combater a discriminação que ainda acompanha a hanseníase. De acordo com as informações disponíveis, não há registro, nos materiais consultados, de prêmios específicos conquistados pela produção. Ainda assim, o documentário teve circulação destacada ao ser selecionado para mostras competitivas em festivais de cinema nacionais e internacionais, incluindo a mostra competitiva nacional da 10ª edição do Festival Internacional de Cinema Socioambiental Planeta.doc, o que reforça sua visibilidade e relevância no circuito.

Balanço do ano

Ao longo de 2025, o CIATEN consolidou uma estratégia dupla: capacitou profissionais de saúde e pesquisadores em temas de alta complexidade, como inteligência artificial aplicada à saúde e epidemiologia clínica, e, ao mesmo tempo, falou com a população em linguagem acessível, por meio de exposições, feiras e rodas de conversa. O relatório aponta que o centro não apenas produziu conhecimento, mas também transformou ciência em mobilização cidadã, aproximando prevenção, tecnologia e cultura do cotidiano dos piauienses.