Com Profruti, FAPEPI aposta na uva para transformar o semiárido piauiense

A Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Piauí (FAPEPI) realizou, entre os dias 8 e 10 de julho, uma visita técnica aos municípios de Pedro Laurentino e São João do Piauí para acompanhar as ações do Projeto Profruti – Circuito da Uva, voltado à introdução e fortalecimento da cultura da uva em regiões do semiárido piauiense. A iniciativa busca diversificar a matriz produtiva local, gerar emprego e renda, e estimular a permanência da juventude no campo.

Coordenado por pesquisadores com apoio da FAPEPI e executado em parceria com pequenos produtores, o projeto vem implantando áreas irrigadas com videiras adaptadas ao clima do sertão piauiense, apostando em manejo qualificado e assistência técnica permanente.

Parreiral de uvas no município de Pedro Laurentino

A visita foi liderada pelo presidente da FAPEPI, João Xavier, que percorreu áreas de plantio, conversou com agricultores e avaliou os impactos da ação financiada com recursos públicos de fomento à ciência e à inovação. “Estamos observando, na prática, como a pesquisa aplicada pode transformar a vida das pessoas. O que antes era apenas uma experiência isolada, hoje é um sistema produtivo em consolidação. A uva é apenas o começo de um novo horizonte para o semiárido piauiense”, afirmou Xavier.

João Xavier, presidente da Fapepi

Em Pedro Laurentino, o agricultor Hosternes Rodrigues cultiva uvas em uma área de 0,2 hectare. Segundo ele, o desafio da irrigação é constante, mas os resultados têm sido animadores. “A uva pegou bem aqui. O Piauí tem muita água! De onde eu venho, Pernambuco, temos muita falta de água, mas ainda sim conseguimos produzir, imagina aqui. Com orientação certa, podemos ser referência no cultivo de uva no nordeste. Agora a produção tá vindo e tem comprador interessado. É uma renda nova que muda o jeito da gente viver aqui”, disse.

O agricultor Hosternes acredita que o Piauí é um dos melhores lugares do Brasil para se plantar a uva.

Já em São João do Piauí, considerado um dos polos do projeto, a produtora Lurdinha Pereira se tornou uma das principais referências do cultivo. Para ela, o impacto vai além da produtividade. “Hoje a gente fala de uva, mas está falando também de autoestima, de oportunidades. Tem jovem que estava indo embora e agora quer aprender a plantar, cuidar, vender. Isso é muito forte”, relatou.

Na foto, Lurdinha Pereira no assentamento Marrecas

A iniciativa utiliza principalmente cultivas desenvolvidas pela Embrapa Uva e Vinho, como as variedades sem sementes BRS Vitória, BRS Isis e BRS Melodia, além da BRS Núbia, com semente. Essas variedades foram criadas dentro do programa nacional de melhoramento genético “Uvas do Brasil”, voltado ao cultivo em clima tropical.

Parreiral de uvas no assentamento Marrecas

A coordenadora do programa, a pesquisadora Patrícia Ritschel, destaca a importância do esforço conjunto entre ciência e campo: “Essas cultivares foram desenvolvidas justamente para atender às condições específicas do Brasil tropical. Ver que estão sendo bem-sucedidas em regiões como o semiárido do Piauí reforça o potencial da fruticultura como vetor de desenvolvimento regional. Esse é o papel da pesquisa pública: gerar soluções viáveis e acessíveis para diferentes realidades produtivas”, afirmou.

Pesquisadora da Embrapa Uva e Vinho, Patrícia Ritschel, que desenvolve uvas Vitória, Isis e Melodia.

Já o pesquisador Eugênio Emérito, da Embrapa Meio-Norte, que acompanha a implantação do projeto no estado, destaca a articulação entre instituições como ponto central para o sucesso da iniciativa. “O diferencial do Circuito da Uva é a soma de esforços: governo, fundações, pesquisa e agricultores. O modelo está em construção, mas já oferece sinais concretos de sustentabilidade econômica, social e ambiental para o território”, avaliou.

Eugênio Emérito, Embrapa Meio Norte.


A equipe da FAPEPI destaca que o Circuito da Uva integra uma estratégia maior de fortalecimento da agricultura de base familiar com apoio técnico-científico. O projeto prevê capacitações, distribuição de mudas adaptadas e intercâmbios com produtores de outras regiões do país.

Com o solo pedregoso, clima seco, o semiárido piauiense tradicionalmente enfrentou limitações para cultivos comerciais. Mas, com o uso de tecnologias simples e adaptadas, como irrigação por gotejamento, o cultivo da uva tem se mostrado viável. Algumas áreas já apresentam duas safras por ano.

O Profruti é financiado com recursos estaduais, por meio da FAPEPI, e busca ampliar a interiorização da produção científica e tecnológica no estado. A expectativa é de que a próxima etapa do projeto leve o modelo a outros municípios.

Fotos: Maria Catiany